"Seja a mudança que você quer ver no mundo." - Mahatma Ghandi

A idéia deste blog surgiu a partir do contato com a realidade comum de diversos públicos: empresas, universidades, comunidades, etc. Depois de muito ouvir conceitos equivocados sobre o tema sustentabilidade, resolvi fazer a minha parte!

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terça-feira, 29 de outubro de 2013

Liderança Consciente para Sustentabilidade – Apresentação em Oslo


Tive a alegria e a honra de ser convidada pela cidade de Oslo para apresentar sobre a minha pesquisa no mesmo local onde são realizadas as cerimonias do Premio Nobel da Paz!

Foto 1 - Plateia da minha apresentação em Oslo

Segue um resumo sobre a minha apresentação - “Liderança Consciente para a Sustentabilidade” no "Oslo Innovation Evening":

Eu trabalho na área de sustentabilidade há quase 20 anos, em todas as regiões do Brasil, com empresas, universidades e comunidades. E o que esta experiência me mostrou? Percebi, que o entendimento de sustentabilidade e da abordagem para sustentabilidade são muito diferentes de empresa para empresa. Assim, o que faz uma empresa  (ou uma cidade) lidar melhor com desafios de sustentabilidade do que outras empresas? O que caracteriza os seus líderes?

Depois de avaliar muitas organizações e entrevistar centenas de líderes, percebi que para realmente entender sustentabilidade, uma consciência diferente é necessária. Lideres que consigam entender um proposito maior para suas organizações, que não apenas lucros. Claro, lucros são necessários para a sobrevivência das empresas, assim como nós, seres humanos precisamos de células sanguíneas para a nossa sobrevivência (1). Entretanto, a produção de sangue não é o nosso propósito. Da mesma forma,  lucro não é o propósito das empresas, é muito mais do que isso!

As empresas podem encontrar propósito e até mesmo aumentar os seus lucros - por meio de novas idéias e novos modelos de negócio, mas isto precisa acontecer através da descoberta de uma agenda compartilhada com os stakeholders (partes interessadas), encontrando maneiras em que a sua prosperidade leva a prosperidade dos outros também! É também sobre o pensamento de longo prazo. Afinal, propósito transcende um mês, um semestre ou um ano. A coisa mais importante é saber quem você é e porque você faz o que você faz (o seu propósito).

Para encontrar um propósitoé necessário ver o mundo através de novas lentes. Como afirmado por Einstein:
"Os problemas que existem no mundo de hoje, não podem ser resolvidos pelo mesmo nível de consciência que os criou."

Então - isso se tornou minha busca e minha paixão - contribuir para o desenvolvimento de "Liderança Consciente para a Sustentabilidade" (2), o tema da minha pesquisa de doutorado na Holanda. Eu comecei a minha busca na literatura científica e no conhecimento de culturas ancestrais e fiquei maravilhada com as semelhanças entre ambas - Diferentes palavras para explicar as mesmas coisas!

O que eu encontrei em ambos os casos, é que a sustentabilidade não é apenas uma maneira de fazer melhor uso da tecnologia (por exemplo, energia limpa), é também uma forma de ser diferente (3). O que nós queremos ser como seres humanos? O que nós queremos ser como civilização?

Foto 2 - Apresentando em Oslo

Para desenvolver uma civilização consciente, precisamos de líderes conscientes. Consciência pode ser dividido em estágios e cada estágio é mais complexo. Cada estágio de desenvolvimento da consciência transcende os anteriores, mas inclui sua essência, é como ir de átomos à moléculas, de moléculas à células e, de células à organismos. Nas palavras de Robert Kegan, cientista da Universidade de Harvard:
"O que acontece gradualmente, não é apenas um acréscimo linear de mais e mais que se pode olhar ou pensar, mas uma mudança qualitativa na própria forma da janela ou lente através da qual se olha para o mundo."

A pesquisa científica de Kegan mostrou que pessoas adultas, dependendo do seu nível de consciência podem ser: auto-soberano, socializado, autoria-própria ou auto-transformador (veja mais em Teoria do Desenvolvimento Construtivo).

Imagine quatro líderes e uma montanha.
O líder auto-soberano está na base da montanha, ele não pode ver a bela paisagem. Este líder olha apenas para o seu umbigo e apenas vê os outros como facilitadores ou obstáculos para a realização de seus próprios desejos. Assim, para ele, sustentabilidade corporativa e’ apenas obedecer a lei (quando obedece), apenas por medo de ser pego.

Um pouco mais acima na montanha é o líder socializado, ele pode ver uma pequena parte da paisagem e ele está muito ocupado acenando para os amigos. Ele gosta de mostrar aos outros que ele aplica sustentabilidade corporativa, mas através de ações pontuais e de filantropia, para mostrar na mídia.

No meio da montanha encontramos o líder de autoria-própria, que pode ver mais paisagem do que o líder socializado. Ela consegue ver mais do que o seu próprio grupo. Assim, para ela sustentabilidade corporativa é focada na gestão das partes interessadas e no tripé da sustentabilidade (ambiental, social e econômico).

No topo da montanha, o líder que subiu mais, com a consciência mais desenvolvida, é o líder auto-transformador. Ela pode ver toda a paisagem, é uma visionária, à frente do tempo. Para ela Sustentabilidade corporativa é criação de valor para as partes interessadas e para toda a sociedade. Não é muito surpreendente que não há muitas pessoas nesta última categoria, na verdade, menos de 1% das pessoas no mundo são auto-transformadoras. Os exemplos aqui são Madre Tereza de Calcutá, que trabalhou com a premissa do amor acima de tudo. Mandela, que depois de 27 anos de prisão trabalhou com reconciliação, desenvolvendo a civilização para a igualdade. E Gandhi, que ilustra a idéia de alcançar a independência de um Pais sem violência.

De certa forma - a minha pesquisa de doutorado é sobre isso - como escalar a montanha. Como acelerar este processo de desenvolvimento dos líderes, encontrando maneiras e métodos que irão atuar como um catalisador para o desenvolvimento da consciência.

Foto 3 - Respondendo perguntas após a apresentação, junto com o Prefeito de Oslo e executivos da Australia e Mexico.


A humanidade sempre se transformou para sobreviver. No entanto, pela primeira vez na história da nossa espécie, sobreviver vai exigir mais do que uma coleção de mentes socializadas. A complexidade dos desafios que enfrentamos não podem ser resolvidos unicamente através de melhores políticas, ou de tecnologia.
Todos nós precisamos caminhar para evoluir - para subir a montanha - juntos!

"A verdadeira mudança ocorre dentro de nossas almas, a verdadeira mudança ocorre quando o desdobramento de nossas almas reflete, de algum modo profundo, o misterioso desdobramento do universo. Assim, quando um indivíduo ousa viver dentro de sua verdade, que o mundo é mudado, para sempre." (Vaclav Havel)


Foto 4 - Na plateia após a apresentação, junto com o Prefeito de Oslo e executivos da Australia e Mexico.


Obs.: Para mais sobre este evento veja: 

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Confiança, Autodesenvolvimento e Sustentabilidade


O mundo está enfrentando desafios complexos de sustentabilidade, que se manifestam em muitas crises interdependentes, incluindo mudanças climáticas, desmatamento e desertificação, fome e pobreza, escassez de água potável, problemas na saúde pública, conflitos políticos, fracasso institucional, perda da biodiversidade, entre outras. Todas estas crises diminuem a confiança das pessoas nas estruturas sociais, nos líderes e até nelas mesmas.

O que pouco se tem dito é que sustentabilidade, não é apenas uma forma de usar melhor a tecnologia (por exemplo, energia mais limpa), é uma forma de “ser” diferente. Como diz a Marina Silva, é valorizar o “ser” e não o “fazer”, o “ter” ou o “parecer”.

Mas, como valorizar este “ser” diferente? Seguem algumas dicas, os elementos de liderança autêntica (estudada por pesquisadores como Bruce Avolio, William Gardner, Fred Walumbwa), uma das teorias que estou usando na minha pesquisa de doutorado:

Transparência relacional: é o ser transparente, apresentar o verdadeiro “eu”, compartilhar honestamente informações e sentimentos, promovendo assim confiança nas relações.

Autoconsciência: esta é um pouco mais difícil, requer autoconhecimento e autodesenvolvimento ao longo do tempo. Entender o mundo de uma forma maior, mais abrangente. Autoconsciência alude a um processo profundo de descobrir quem se é, aprendendo sobre conceitos e visões internalizadas, como se faz sentido do mundo e como o processo de fazer sentido impacta a visão da pessoa ao longo do tempo. É como ir subindo uma montanha ao longo da vida, e nesta subida ir descobrindo novos panoramas, novas formas de ver e de entender o mundo e a si mesmo. Para mais veja a postagem de “Teoria de Desenvolvimento Construtivo”.

Processamento equilibrado: objetivamente analisar todas as informações relevantes antes de tomar uma decisão, sem preconceitos com alguma informação que não caiba na internalizada visão de mundo atual. Além disso, procurar pontos de vista que desafiem as convicções mais profundas e tentar entendê-las de coração e mente abertos.

Perspectiva moral internalizada: é uma forma interna de auto regulação, guiada por padrões e valores morais internos ante pressões do grupo e da sociedade. Que resulta em processos de decisão e de comportamento consistentes com os valores internos, independente das pressões sociais para o contrário.