"Seja a mudança que você quer ver no mundo." - Mahatma Ghandi

A idéia deste blog surgiu a partir do contato com a realidade comum de diversos públicos: empresas, universidades, comunidades, etc. Depois de muito ouvir conceitos equivocados sobre o tema sustentabilidade, resolvi fazer a minha parte!

Bem-vindo! Fique à vontade para questionar, contribuir, transformar!

quinta-feira, 3 de abril de 2014

Amor & Sustentabilidade


Olá! Hoje vamos falar sobre amor e sustentabilidade. Uau, parecem assuntos tão diferentes, mas que estão muito mais ligados do que poderíamos imaginar :)

De acordo com o pensamento de várias culturas ancestrais, uma das principais causas do sofrimento é a ignorância. Mas, não é exatamente a ignorância referente a falta de informação. É a ignorância que se refere a um equívoco fundamental de percepção da verdadeira natureza do eu e de todos os fenômenos.



Como afirma Dalai Lama (1), todas as emoções ou estados mentais negativos (como o medo, a ganância e o ódio) são estados mentais ‘ilusórios’, já que se enraízam numa percepção equivocada da verdadeira realidade da situação. Por mais poderosas que sejam, no fundo essas emoções negativas não possuem nenhum fundamento válido, são baseadas na ignorância. Por outro lado, todas as emoções ou estados mentais positivos (como o amor e a compaixão), têm uma base sólida. Quando a mente está vivenciando esses estados positivos, não existe deturpação, pois estão ancorados na realidade. Podem ser verificados por nossa existência. Existe uma espécie de solidez e enraizamento na razão e na compreensão. Por exemplo, a compaixão, uma emoção positiva, vem do fato que não queremos sofrer e que temos direito à felicidade. Isso pode ser verificado e legitimado pela nossa experiência. Reconhecemos então que outras pessoas, exatamente como nós, também não querem sofrer e também têm direito à felicidade. Essa passa a ser a base para começarmos a gerar compaixão. Como exemplo de estado mental negativo, a ganância, que se baseia simplesmente num estado de insatisfação, de querer mais, muito embora as coisas que queremos não sejam realmente necessárias. Assim, a ganância não possui motivos válidos para a legitimar.

Mas se tudo isso é verdade, como se justifica o estado mental negativo do medo de nossa destruição do planeta? Como não lutar para que este medo não se torne real? Como não tentar corrigir este estado insustentável do planeta? Bom, se nos colocarmos como “salvadores do mundo”, mas motivados pelo medo, ainda estaremos dentro do estado de consciência da ignorância/ilusão. E isso não tem tanta força, já tentamos isso por séculos e séculos. Seja o que for, se ainda for motivado pelo medo, ainda estará no estado de consciência antigo. Mas, quando é motivado pelo amor, aí sim tem força! Então não estamos mais tão interessados no que somos contra, estamos interessados no que somos a favor (2).

Mahatma Gandhi sempre dizia às pessoas: “Eu não sou contra o domínio britânico, eu sou a favor da soberania da Índia, sou a favor dos direitos da Índia. Eu não estou contra ninguém”.
Nelson Mandela não estava contra os brancos, ele era a favor dos direitos dos negros.

Assim, sejamos a favor da vida! Sejamos a favor do desenvolvimento pleno de todos os seres humanos! Sejamos a favor da natureza! Sejamos a favor da compaixão universal! Sejamos a favor do amor maior!

"Um dia depois de ter dominado os ventos, as ondas, as marés e a gravidade, vamos entender ... as energias do amor. Então, pela segunda vez na história do mundo, o homem terá descoberto o fogo.”  (Pierre Teilhard de Chardin)

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Referências:
(1) Dalai Lama -  Livro: A Arte da Felicidade: Um Manual para a Vida. Editora Martins Fontes, São Paulo, 2003.



terça-feira, 29 de outubro de 2013

Liderança Consciente para Sustentabilidade – Apresentação em Oslo


Tive a alegria e a honra de ser convidada pela cidade de Oslo para apresentar sobre a minha pesquisa no mesmo local onde são realizadas as cerimonias do Premio Nobel da Paz!

Foto 1 - Plateia da minha apresentação em Oslo

Segue um resumo sobre a minha apresentação - “Liderança Consciente para a Sustentabilidade” no "Oslo Innovation Evening":

Eu trabalho na área de sustentabilidade há quase 20 anos, em todas as regiões do Brasil, com empresas, universidades e comunidades. E o que esta experiência me mostrou? Percebi, que o entendimento de sustentabilidade e da abordagem para sustentabilidade são muito diferentes de empresa para empresa. Assim, o que faz uma empresa  (ou uma cidade) lidar melhor com desafios de sustentabilidade do que outras empresas? O que caracteriza os seus líderes?

Depois de avaliar muitas organizações e entrevistar centenas de líderes, percebi que para realmente entender sustentabilidade, uma consciência diferente é necessária. Lideres que consigam entender um proposito maior para suas organizações, que não apenas lucros. Claro, lucros são necessários para a sobrevivência das empresas, assim como nós, seres humanos precisamos de células sanguíneas para a nossa sobrevivência (1). Entretanto, a produção de sangue não é o nosso propósito. Da mesma forma,  lucro não é o propósito das empresas, é muito mais do que isso!

As empresas podem encontrar propósito e até mesmo aumentar os seus lucros - por meio de novas idéias e novos modelos de negócio, mas isto precisa acontecer através da descoberta de uma agenda compartilhada com os stakeholders (partes interessadas), encontrando maneiras em que a sua prosperidade leva a prosperidade dos outros também! É também sobre o pensamento de longo prazo. Afinal, propósito transcende um mês, um semestre ou um ano. A coisa mais importante é saber quem você é e porque você faz o que você faz (o seu propósito).

Para encontrar um propósitoé necessário ver o mundo através de novas lentes. Como afirmado por Einstein:
"Os problemas que existem no mundo de hoje, não podem ser resolvidos pelo mesmo nível de consciência que os criou."

Então - isso se tornou minha busca e minha paixão - contribuir para o desenvolvimento de "Liderança Consciente para a Sustentabilidade" (2), o tema da minha pesquisa de doutorado na Holanda. Eu comecei a minha busca na literatura científica e no conhecimento de culturas ancestrais e fiquei maravilhada com as semelhanças entre ambas - Diferentes palavras para explicar as mesmas coisas!

O que eu encontrei em ambos os casos, é que a sustentabilidade não é apenas uma maneira de fazer melhor uso da tecnologia (por exemplo, energia limpa), é também uma forma de ser diferente (3). O que nós queremos ser como seres humanos? O que nós queremos ser como civilização?

Foto 2 - Apresentando em Oslo

Para desenvolver uma civilização consciente, precisamos de líderes conscientes. Consciência pode ser dividido em estágios e cada estágio é mais complexo. Cada estágio de desenvolvimento da consciência transcende os anteriores, mas inclui sua essência, é como ir de átomos à moléculas, de moléculas à células e, de células à organismos. Nas palavras de Robert Kegan, cientista da Universidade de Harvard:
"O que acontece gradualmente, não é apenas um acréscimo linear de mais e mais que se pode olhar ou pensar, mas uma mudança qualitativa na própria forma da janela ou lente através da qual se olha para o mundo."

A pesquisa científica de Kegan mostrou que pessoas adultas, dependendo do seu nível de consciência podem ser: auto-soberano, socializado, autoria-própria ou auto-transformador (veja mais em Teoria do Desenvolvimento Construtivo).

Imagine quatro líderes e uma montanha.
O líder auto-soberano está na base da montanha, ele não pode ver a bela paisagem. Este líder olha apenas para o seu umbigo e apenas vê os outros como facilitadores ou obstáculos para a realização de seus próprios desejos. Assim, para ele, sustentabilidade corporativa e’ apenas obedecer a lei (quando obedece), apenas por medo de ser pego.

Um pouco mais acima na montanha é o líder socializado, ele pode ver uma pequena parte da paisagem e ele está muito ocupado acenando para os amigos. Ele gosta de mostrar aos outros que ele aplica sustentabilidade corporativa, mas através de ações pontuais e de filantropia, para mostrar na mídia.

No meio da montanha encontramos o líder de autoria-própria, que pode ver mais paisagem do que o líder socializado. Ela consegue ver mais do que o seu próprio grupo. Assim, para ela sustentabilidade corporativa é focada na gestão das partes interessadas e no tripé da sustentabilidade (ambiental, social e econômico).

No topo da montanha, o líder que subiu mais, com a consciência mais desenvolvida, é o líder auto-transformador. Ela pode ver toda a paisagem, é uma visionária, à frente do tempo. Para ela Sustentabilidade corporativa é criação de valor para as partes interessadas e para toda a sociedade. Não é muito surpreendente que não há muitas pessoas nesta última categoria, na verdade, menos de 1% das pessoas no mundo são auto-transformadoras. Os exemplos aqui são Madre Tereza de Calcutá, que trabalhou com a premissa do amor acima de tudo. Mandela, que depois de 27 anos de prisão trabalhou com reconciliação, desenvolvendo a civilização para a igualdade. E Gandhi, que ilustra a idéia de alcançar a independência de um Pais sem violência.

De certa forma - a minha pesquisa de doutorado é sobre isso - como escalar a montanha. Como acelerar este processo de desenvolvimento dos líderes, encontrando maneiras e métodos que irão atuar como um catalisador para o desenvolvimento da consciência.

Foto 3 - Respondendo perguntas após a apresentação, junto com o Prefeito de Oslo e executivos da Australia e Mexico.


A humanidade sempre se transformou para sobreviver. No entanto, pela primeira vez na história da nossa espécie, sobreviver vai exigir mais do que uma coleção de mentes socializadas. A complexidade dos desafios que enfrentamos não podem ser resolvidos unicamente através de melhores políticas, ou de tecnologia.
Todos nós precisamos caminhar para evoluir - para subir a montanha - juntos!

"A verdadeira mudança ocorre dentro de nossas almas, a verdadeira mudança ocorre quando o desdobramento de nossas almas reflete, de algum modo profundo, o misterioso desdobramento do universo. Assim, quando um indivíduo ousa viver dentro de sua verdade, que o mundo é mudado, para sempre." (Vaclav Havel)


Foto 4 - Na plateia após a apresentação, junto com o Prefeito de Oslo e executivos da Australia e Mexico.


Obs.: Para mais sobre este evento veja: 

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Confiança, Autodesenvolvimento e Sustentabilidade


O mundo está enfrentando desafios complexos de sustentabilidade, que se manifestam em muitas crises interdependentes, incluindo mudanças climáticas, desmatamento e desertificação, fome e pobreza, escassez de água potável, problemas na saúde pública, conflitos políticos, fracasso institucional, perda da biodiversidade, entre outras. Todas estas crises diminuem a confiança das pessoas nas estruturas sociais, nos líderes e até nelas mesmas.

O que pouco se tem dito é que sustentabilidade, não é apenas uma forma de usar melhor a tecnologia (por exemplo, energia mais limpa), é uma forma de “ser” diferente. Como diz a Marina Silva, é valorizar o “ser” e não o “fazer”, o “ter” ou o “parecer”.

Mas, como valorizar este “ser” diferente? Seguem algumas dicas, os elementos de liderança autêntica (estudada por pesquisadores como Bruce Avolio, William Gardner, Fred Walumbwa), uma das teorias que estou usando na minha pesquisa de doutorado:

Transparência relacional: é o ser transparente, apresentar o verdadeiro “eu”, compartilhar honestamente informações e sentimentos, promovendo assim confiança nas relações.

Autoconsciência: esta é um pouco mais difícil, requer autoconhecimento e autodesenvolvimento ao longo do tempo. Entender o mundo de uma forma maior, mais abrangente. Autoconsciência alude a um processo profundo de descobrir quem se é, aprendendo sobre conceitos e visões internalizadas, como se faz sentido do mundo e como o processo de fazer sentido impacta a visão da pessoa ao longo do tempo. É como ir subindo uma montanha ao longo da vida, e nesta subida ir descobrindo novos panoramas, novas formas de ver e de entender o mundo e a si mesmo. Para mais veja a postagem de “Teoria de Desenvolvimento Construtivo”.

Processamento equilibrado: objetivamente analisar todas as informações relevantes antes de tomar uma decisão, sem preconceitos com alguma informação que não caiba na internalizada visão de mundo atual. Além disso, procurar pontos de vista que desafiem as convicções mais profundas e tentar entendê-las de coração e mente abertos.

Perspectiva moral internalizada: é uma forma interna de auto regulação, guiada por padrões e valores morais internos ante pressões do grupo e da sociedade. Que resulta em processos de decisão e de comportamento consistentes com os valores internos, independente das pressões sociais para o contrário.


sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Fim do Mundo X Sustentabilidade


Muito tem se falado sobre o fim do mundo em 2012... eu sinceramente espero que isto seja verdade...Hum, você deve agora estar se perguntando: como uma pessoa que se propõe a escrever sobre “sustentabilidade” quer o fim do mundo?
Calma, vou explicar melhor...o que espero é o fim deste mundo...de planeta doente e de pessoas infelizes. E que a solução pode ser muito mais simples e feliz do que poderíamos imaginar.

Culturas ancestrais, como os maias, não acreditavam em tempo linear de início e fim absoluto, como a nossa cultura ocidental. Para estes povos o tempo é concebido em forma espiral, de evolução permanente, então o fim de um ciclo não significa o fim do mundo em sentido literal, mas apenas o fim de uma era para outra melhor, mais evoluída.
Então, proponho um caminho novo...mais feliz...mais sustentável para todos...pessoas e planeta.

Que as pessoas no mundo tenham mais amor, consciência, compaixão, comunhão... somos todos um, independentemente de nacionalidade, origem, crenças...
Que desapareçam as fronteiras entre países, corações, esperanças, humanidades...

Que as empresas sigam propósitos de amor maior, responsabilidade, honestidade, sustentabilidade planetária...
Que a sociedade de maximizar lucros seja substituída pela sociedade de maximizar amor...que é na verdade o nosso bem mais precioso...

Que a guerra não seja mais uma desculpa para a paz...que a paz seja o nosso constante respirar...
Que juntos evoluamos... como pessoas, sociedade, planeta...

Que o amor maior, a paz universal e a felicidade compartilhada sejam os nossos caminhos!

sábado, 9 de junho de 2012

Teoria do Desenvolvimento Construtivo

Olá! Hoje veremos uma teoria muito interessante sobre o desenvolvimento da consciência. Esta é uma das teorias que vou usar na minha pesquisa de doutorado para desenvolvimento de lideranças conscientes para a sustentabilidade.

Pesquisadores no passado pensavam que só as crianças poderiam desenvolver a mente, então Robert Kegan (cientista da Universidade de Harvard) desenvolveu uma teoria para o desenvolvimento adulto que define cinco estágios de complexidade mental ou "ordens de consciência".
Para entender melhor essa teoria, primeiro vamos ver o conceito de relação sujeito-objeto. Nas palavras de Kegan:
A relação sujeito-objeto é uma distinção fundamental na maneira que nós fazemos sentido de nossa experiência - uma distinção que molda o nosso pensamento, nosso sentimento, nosso relacionamento social, e os nossos modos de se relacionar com aspectos internos de nós mesmos. A relação sujeito-objeto não é apenas uma abstração, mas algo vivo. O que quero dizer como "objeto" são os aspectos da nossa experiência, que são aparentes para nós e que podem ser olhado para, relacionado com, refletido sobre, engajado, controlado, e ligado a outra coisa. Podemos ser objetivo sobre essas coisas, no que não vê-las como "eu". Mas com outros aspectos da nossa experiência, estamos tão identificados com, incorporados em, fundidos com, que acabamos por experimentá-los como sendo a nós mesmos. Isto é o que nós experimentamos subjetivamente- o "sujeito", metade da relação sujeito-objeto.
Em resumo, sujeito é o "eu" e objeto é o "não eu". Por exemplo, em um bebê não existe uma distinção sujeito-objeto, assim não há uma distinção entre a fonte do desconforto causado pela luz brilhante ou pela fome na barriga. Não há distinção entre o “eu” e o “não eu”.
A teoria de Kegan descreve cinco estágios de desenvolvimento ou ordens de consciência:
A Mente Impulsiva (1 ª ordem de consciência): o primeiro estágio é o que caracteriza principalmente o comportamento das crianças, que são incapazes de distinguir os objetos das pessoas presentes no ambiente. Este é o nível básico de desenvolvimento. A pessoa e o ambiente estão unidos.
A Mente Instrumental (2 ª ordem de consciência): Os indivíduos nesta fase (geralmente até a adolescência) são auto-centrados e veem os outros como facilitadores ou obstáculos para a realização de seus próprios desejos. Nesta fase, a pessoa tem apenas uma perspectiva, a sua própria.
A Mente socializada (3 ª ordem de consciência): a este nível de consciência, a identidade da pessoa é vinculada a viver em relação com os outros, em papéis determinados por sua cultura local. Tal pessoa está sujeita às opiniões dos outros e é, portanto, fortemente influenciada pelo que acredita que os outros querem ouvir. Tal postura tende a ser dependente da autoridade para o direcionamento e menos propensa a questionamentos, sendo um seguidor leal. Cerca de 58% da população adulta está até esse nível de consciência.
A Mente de Autoria Própria (4 ª ordem de consciência): é capaz de dar um passo atrás de seu ambiente e mantê-lo como objeto, olhando a sua cultura de forma crítica. A mente de autoria própria é capaz de distinguir as opiniões dos outros de suas próprias opiniões para formular sua própria base de julgamento. O resultado é uma "autoria própria" de sua identidade, que é independente do seu ambiente. Guiado por sua própria bússola interna, essa pessoa torna-se então sujeito à sua própria ideologia. Esses indivíduos tendem a ser auto dirigidos, pensadores independentes.
A Mente Auto-Transformadora (5 ª ordem de consciência): é o maior nível de consciência no modelo de Kegan. Deste ponto de vista, a pessoa é capaz de considerar as múltiplas ideologias simultaneamente e compará-las, sendo cauteloso com qualquer uma. Esta perspectiva múltipla é capaz de suportar as contradições entre os sistemas de crenças concorrentes e, portanto, sujeita à dialética entre sistemas de pensamento. Menos de 1% da população adulta se encontra neste nível de desenvolvimento.
De acordo com Kegan, o estado final desta história - deste processo de mudança gradual, mas qualitativamente mudando mais e mais o que era sujeito para objeto - seria um estado em que a distinção sujeito-objeto chega ao fim mais uma vez, na direção oposta do que nos primeiros minutos de vida. Há duas maneiras diferentes que você pode sair da divisão sujeito-objeto. Uma forma é ser inteiramente sujeito sem nenhum objeto, que é um bebê. E a outra maneira é através do esvaziamento completo do sujeito para o objeto, de modo que não é, em certo sentido, nenhum sujeito, isto é, você não está olhando para fora no mundo a partir de qualquer ponto de vista que é separado dele. Você está em seguida, tomando a perspectiva do mundo todo.

De forma poética:
“A única real viagem da descoberta consiste não em ver novas paisagens, mas em ter novos olhos, de ver o universo com os olhos do outro, de centenas de outros, em ver as centenas de universos que cada um deles vê” - Marcel Proust.


Para mais sobre o trabalho de Robert Kegan:

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Mensagem de Esperança


Olá! Um novo ano se inicia e com ele também a esperança de uma vida, de um mundo melhor...

Mas como manter esta esperança frente aos crescentes problemas mundiais de todo o tipo? Será que esta esperança não é uma inocência perante o caos mundial?

Hum, vamos ver o que as novas descobertas da ciência têm a nos dizer sobre isso (baseado no livro “Liderança e a Nova Ciência” de Margaret Wheatley):

- Novos modelos de entender a mudança e a desordem surgiram da teoria do caos. Define-se um sistema como caótico quando se torna impossível saber o que ele fará no momento seguinte. O sistema nunca se comporta da mesma maneira duas vezes. Porém, como demonstra a teoria do caos, se observarmos um sistema caótico ao longo do tempo, ele demonstra um estado de ordem inerente, suas ações incontroláveis se mantêm no âmbito de uma fronteira invisível. O sistema contém ordem em seu próprio interior. E revela esse auto-retrato como um belo padrão, seu atrator estranho (ver figura abaixo). Portanto, existe em todo o universo ordem na desordem e desordem na ordem. Sempre pensamos que a desordem fosse a ausência do estado de ordem, vista na própria construção da palavra: des-ordem. Mas o que acontece é uma dança – do caos e da ordem, da mudança e da estabilidade. Assim, estamos diante de complementaridades que apenas dão a impressão de serem polaridades. Nenhum deles tem a primazia; um e outro são absolutamente necessários. Quando observamos o crescimento, observamos o resultado da dança.


   Figura de um atrator estranho caótico (Instituto Max Planck, Dortmond, Alemanha)



- Na química, Ilya Prigogine recebeu o prêmio Nobel de 1977 por seu trabalho que demonstrava como certos sistemas químicos se reorganizam numa ordem de nível mais elevado quando se vêem diante de mudanças no ambiente. Prigogine criou a expressão “estruturas dissipativas” para descrever a natureza contraditória desses sistemas descobertos. A dissipação descreve uma perda, um processo de escoamento gradual de energia, ao passo que a estrutura descreve a ordem corporificada. Numa estrutura dissipativa, qualquer coisa que perturbe o sistema tem o papel crucial de ajudá-lo a se auto-organizar numa nova forma.  Sempre que o ambiente oferece informações novas e diferentes, o sistema escolhe se reage a ela ou não; se a informação se transformar num distúrbio de tal magnitude que o sistema já não possa ignorá-la, há por certo uma mudança real no horizonte. Nesse momento, com tantas perturbações internas e longe do equilíbrio, o sistema se desintegra; mas esta desintegração não significa a sua morte. Se puder manter a própria identidade, um sistema vivo pode reconfigurar-se num nível superior de complexidade, numa nova forma de si mesmo que consegue lidar melhor com o presente. Dessa forma, as estruturas dissipativas demonstram que a desordem pode ser a fonte de nova ordem, e que o crescimento surge do desequilíbrio, e não do equilíbrio!

Então, alguns dos insights que estas descobertas da ciência nos trazem são os seguintes:

- A vida busca a ordem, mas usa a desordem para chegar lá. O que acontece é uma dança – do caos e da ordem, da mudança e da estabilidade.

 - O caos e a mudança são caminhos para a transformação. O crescimento surge do desequilíbrio, e não do equilíbrio.

Assim, o caos instalado em várias dimensões da sociedade (economia, meio ambiente, política, organizações,...) significa que precisamos repensar todas estas questões e evoluirmos como sociedade e como seres humanos!


Que 2012 seja um ano de profundas transformações, de evolução, de amor no sentido maior.