Pesquisadores no passado pensavam que só as crianças
poderiam desenvolver a mente, então Robert Kegan (cientista da Universidade de
Harvard) desenvolveu uma teoria para o desenvolvimento adulto que define cinco
estágios de complexidade mental ou "ordens de consciência".
Para entender melhor essa teoria, primeiro vamos ver o
conceito de relação sujeito-objeto. Nas palavras de Kegan:
A relação sujeito-objeto é uma distinção fundamental na
maneira que nós fazemos sentido de nossa experiência - uma distinção que molda
o nosso pensamento, nosso sentimento, nosso relacionamento social, e os nossos
modos de se relacionar com aspectos internos de nós mesmos. A relação
sujeito-objeto não é apenas uma abstração, mas algo vivo. O que quero dizer como
"objeto" são os aspectos da nossa experiência, que são aparentes para
nós e que podem ser olhado para, relacionado com, refletido sobre, engajado,
controlado, e ligado a outra coisa. Podemos ser objetivo sobre essas coisas, no
que não vê-las como "eu". Mas com outros aspectos da nossa
experiência, estamos tão identificados com, incorporados em, fundidos com, que
acabamos por experimentá-los como sendo a nós mesmos. Isto é o que nós
experimentamos subjetivamente- o "sujeito", metade da relação
sujeito-objeto.
Em resumo, sujeito é o "eu" e objeto é o "não
eu". Por exemplo, em um bebê não existe uma distinção sujeito-objeto, assim
não há uma distinção entre a fonte do desconforto causado pela luz brilhante ou
pela fome na barriga. Não há distinção entre o “eu” e o “não eu”.
A teoria de Kegan descreve cinco estágios de desenvolvimento
ou ordens de consciência:
A Mente Impulsiva (1
ª ordem de consciência): o primeiro estágio é o que caracteriza
principalmente o comportamento das crianças, que são incapazes de distinguir os
objetos das pessoas presentes no ambiente. Este é o nível básico de
desenvolvimento. A pessoa e o ambiente estão unidos.
A Mente Instrumental
(2 ª ordem de consciência): Os indivíduos nesta fase (geralmente até a
adolescência) são auto-centrados e veem os outros como facilitadores ou
obstáculos para a realização de seus próprios desejos. Nesta fase, a pessoa tem
apenas uma perspectiva, a sua própria.
A Mente socializada
(3 ª ordem de consciência): a este nível de consciência, a identidade da
pessoa é vinculada a viver em relação com os outros, em papéis determinados por
sua cultura local. Tal pessoa está sujeita às opiniões dos outros e é, portanto,
fortemente influenciada pelo que acredita que os outros querem ouvir. Tal
postura tende a ser dependente da autoridade para o direcionamento e menos
propensa a questionamentos, sendo um seguidor leal. Cerca de 58% da população
adulta está até esse nível de consciência.
A Mente de Autoria
Própria (4 ª ordem de consciência): é capaz de dar um passo atrás de seu
ambiente e mantê-lo como objeto, olhando a sua cultura de forma crítica. A
mente de autoria própria é capaz de distinguir as opiniões dos outros de suas
próprias opiniões para formular sua própria base de julgamento. O resultado é
uma "autoria própria" de sua identidade, que é independente do seu
ambiente. Guiado por sua própria bússola interna, essa pessoa torna-se então
sujeito à sua própria ideologia. Esses indivíduos tendem a ser auto dirigidos,
pensadores independentes.
A Mente
Auto-Transformadora (5 ª ordem de consciência): é o maior nível de
consciência no modelo de Kegan. Deste ponto de vista, a pessoa é capaz de
considerar as múltiplas ideologias simultaneamente e compará-las, sendo cauteloso
com qualquer uma. Esta perspectiva múltipla é capaz de suportar as contradições
entre os sistemas de crenças concorrentes e, portanto, sujeita à dialética
entre sistemas de pensamento. Menos de 1% da população adulta se encontra neste
nível de desenvolvimento.
De acordo com Kegan, o estado final desta história - deste
processo de mudança gradual, mas qualitativamente mudando mais e mais o que era
sujeito para objeto - seria um estado em que a distinção sujeito-objeto chega
ao fim mais uma vez, na direção oposta do que nos primeiros minutos de vida. Há
duas maneiras diferentes que você pode sair da divisão sujeito-objeto. Uma
forma é ser inteiramente sujeito sem nenhum objeto, que é um bebê. E a outra
maneira é através do esvaziamento completo do sujeito para o objeto, de modo
que não é, em certo sentido, nenhum sujeito, isto é, você não está olhando para
fora no mundo a partir de qualquer ponto de vista que é separado dele. Você
está em seguida, tomando a perspectiva do mundo todo.
De forma poética:
“A única real viagem da descoberta consiste não em ver novas
paisagens, mas em ter novos olhos, de ver o universo com os olhos do outro, de
centenas de outros, em ver as centenas de universos que cada um deles vê” -
Marcel Proust.
Para mais
sobre o trabalho de Robert Kegan: